Huni Kuin

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Sasha Zeidenberg

Matsi pei tarunua: Uma análise de ilustração botânica dos Huni Kuin

Referências

Una Shubu Hiwea, traduzido como Livro Escola Viva

Um conceito que eu acho muito interessante é o conceito de “plant blindness”. Esta é a ideia de que a maioria das pessoas vê todas as plantas como iguais e não as percebe ou reconhece. Isto passa quando o público não é educado sobre as plantas no seu ambiente. Mas a coisa mais interessante para mim é aprender a ver plantas e como aprender a ler. Quando alguém aprende, não pode regressar a não vê-las. Sempre vai perceber as formas das folhas e os detalhes das cores e padrões. 

Quando uma pessoa faz ilustração botânica, uma das coisas mais importantes para aprender é como ver. Depois de livrar-se de plant blindness, as plantas têm demasiados detalhes para desenhar, e a artista tem que aprender a distinguir quais são os detalhes mais importantes para desenhar e para identificar a planta. Isto pode ser a cor, a venação, como as folhas estão na planta, sua forma, ou muitas outras opções, então às vezes pode ser difícil escolher em que enfocar. 

Os desenhos dos pajés do projeto Una Shubu Hiwea são de umas plantas medicinais que eles usam frequentemente na suas aldeias. Os pajés são de aldeias do povo Huni Kuin, também chamada Kaxinawá. Todas as aldeias são no rio Tarauacá, no estado de Acre, Brasil. Os pajés de aldeias diferentes não desenharam todas as mesmas plantas, mas havia uma planta, chamado matsi pei tarunua, que aparece em muitos desenhos. 

Não está tudo completamente claro, mas o Jardim Botânica de Nova York trabalhou com cientificos no estado de Acre, e identificaram a planta matsi pei tarunua como uma de duas espécies de planta na família Piperaceae: Piper consanguineum Kunth o Piper dumosum Rudge. As plantas da família Piperaceae são muito comuns nos trópicos, e a família inclui a planta Piper nigrum, de onde vem a pimenta que comemos. 

Porque muitos pajés diferentes desenharam matsi pei tarunua, eu posso comparar os desenhos e ver o que cada pajé achou importante incluir no desenho para identificar a planta ou descrever seus usos. Com o nome científico, eu posso também ver fotos da planta e pensar em que eu acharia importante incluir, e comparar isto com o que os diferentes pajés incluíram nos seus desenhos. 

Não sabemos qual planta é , mas se é Piper consanguineum Kunth (Fig. 1&2), eu focaria na forma da folha num desenho. É muito longo, mas não muito largo. Tem uma venação pronunciada, com uma nervura mediana muito grande. A outra coisa que eu acho interessante e importante é as frutas. São duma forma não muito comum, e acho que elas seriam reconhecíveis num desenho. 

Se matsi pei tarunua é Piper dumosum Rudge (Fig. 3), seria um pouco mais difícil determinar o que eu desenharia. Porque a única foto que eu pude encontrar é um espécime de herbário, não é possível ver as cores o como cresce a planta. Contudo, ainda pode ver que as folhas são alternadas, com uma nervura mediana proeminente. 

Fig. 1&2: Muséum national d’Histoire naturelle [Ed]. 2003-2020. National Inventory of Natural Heritage, https://inpn.mnhn.fr. 7 maio, 2020

Fig 3: Prance, G. T.; Maas, P. J.; Kubitzki, K.; Steward, W. C.; Ramos, J. F.; Pinheiro, W. S. “Piper Dumosum Rudge.” Smithsonian Institution, http://n2t.net/ark:/65665/34c68c983-6063-4e25-85c0-442f7e566b60

A ilustração da aldeia Verde Floresta demonstra muito bem a forma da planta. Este desenho presta atenção à forma de crescimento da planta e as formas das folhas, com um pouco de ilustração do fundo também.

Fig. 4: Aldeia Verde Floresta

O desenho da aldeia Novo Segredo também presta atenção à forma/maneira de crescimento da planta. Não pode ver a venação claramente como no desenho de Verde Floresta, mas os ramos consistemente têm uma folha terminal. 

Fig. 5: Aldeia Novo Segredo (pajé Dua Busë) 

O desenho da aldeia Flor da Floresta é muito interessante para mim. O artista faz algo muito comum na ilustração botânica, que é desenhar a planta inteira (ou uma parte grande), e depois só uma folha, para ver mais detalhes pequenas na folha. Eu também quero saber mais sobre o que parece ser uma cara nas raízes da planta. 

Fig. 6: Aldeia Flor da Floresta

O desenho da aldeia Três Fazendas é um pouco difícil ver e entender. Com esse desenho, pode ver a forma da planta, e também pode ser que tenha flores numa cor diferente, mas é um pouco difícil dizer porque tudo parece estar a uma distância. 

Fig. 7: Aldeia Três Fazendas

    O artista da aldeia Canafista fez quatro desenhos que incluem matsi pei tarunua. Cada desenho inclui três plantas diferentes, mas por limites de espaço, eu só inclui os desenhos de matsi pei tarunua. Acho interessante ver os quatro, porque todos foram feitos pela mesma pessoa, mas existem diferenças entre os quatro. As folhas no quarto são muito mais longos que nos outros três, e o caule no segundo é mais grosso que no resto deles. Acho interessante o uso da cor, porque todos os outros desenhos já considerados são verdes, mas aqui tem um azul e outro vermelho. Estou curiosa sobre porque escolheram usar as outras cores nesses desenhos. 

Fig. 8, 9, 10 & 11: Aldeia Canafista

A ilustração da aldeia Nova Fortaleza é uma das poucas que têm frutas. Eu acho que as frutas são muito importantes para a identificação e representação dessa planta, então eu gosto de vê-las. Essa planta quase parece ter folhas compostas por muitas folhetos, que é diferente dos outros desenhos. 

Fig. 12: Aldeia Nova Fortaleza

O artista da aldeia Bela Vista também desenhou três versões da planta. Acho que seus desenhos também têm frutas, mas é um pouco menos claro que a ilustração da Nova Fortaleza. Desenhou seis plantas de matsi pei taruna, e em cada um deles, a artista desenha a planta inteira. Pode ver claramente o hábito de crescimento da cada planta, mas o hábito não é muito consistente entre as seis. 

Fig. 13, 14 & 15: Aldeia Bela Vista 

A ilustração da aldeia Novo Natal é um pouco diferente dos outros desenhos porque não mostra a planta inteira. Pode ser um ramo com folhas o uma folha grande composta por folhetos, mas é difícil dizer. As folhas para mim parecem com as folhas de Piper consanguineum Kunth, porque são muito longas e têm uma nervura mediana que é muito fácil ver. 

Fig. 16: Aldeia Novo Natal

O último desenho é da aldeia Nova Mina. Pode ver neste que a matsi pei tarumua é uma planta independente, em contraste com a videira de niru bushka matsi no mesmo desenho. Não pode ver muitos detalhes nas folhas, mas a forma de crescimento é clara e é possível ver um pouco das raízes também. 

Fig. 17: Aldeia Nova Mina

Os quatorze desenhos de nove aldeias diferentes são semelhantes, mas existem alguns que são mais parecidos que outros. Os de Verde Floresta e Novo Segredo se parecem muito, mas são muito diferentes dos desenhos de Flor da Floresta e Nova Fortaleza. Muitos focaram na planta inteira, mostrando a forma de crescimento, enquanto só os desenhos de Flor da Floresta e Novo Natal focaram nas folhas. Depois de coletar todos os desenhos de matsi pei tarunua, posso ver que são da mesma planta, mas se eu os visse sem o nome, acho que não adivinharia que fossem da mesma planta.

Bibliografia

“Aldeias.” Livro Una Shubu Hiwea, www.itaucultural.org.br/sites/una-shubu-hiwea/aldeias.html.

Daly, D. C., Silveira M., Kirchgessner A. P., Roberts A. S. “Index to Common Names of Plants in Acre.” Index to Common Names of Plants in Acre, www.nybg.org/bsci/acre/www2/Names.html.

Lagrou, Elsje Maria. “Huni Kuin (Kaxinawá).” Huni Kuin (Kaxinawá) – Povos Indígenas No Brasil, Nov. 2004, pib.socioambiental.org/pt/Povo:Huni_Kuin_(Kaxinawá)#Localiza.C3.A7.C3.A3o.

Muséum national d’Histoire naturelle [Ed]. 2003-2020. National Inventory of Natural Heritage, https://inpn.mnhn.fr. 7 maio, 2020

Piper consanguineum Kunth in GBIF Secretariat (2019). GBIF Backbone Taxonomy. Checklist dataset https://doi.org/10.15468/39omei accessed via GBIF.org on 2020-05-08.

Prance, G. T.; Maas, P. J.; Kubitzki, K.; Steward, W. C.; Ramos, J. F.; Pinheiro, W. S. “Piper Dumosum Rudge.” Smithsonian Institution, http://n2t.net/ark:/65665/34c68c983-6063-4e25-85c0-442f7e566b60